O professor Zingano é o quarto entrevistado da série de reportagens especiais do CBT sobre “Túneis e Estruturas Subterrâneas – o pensamento e a pesquisa das universidades brasileiras”. Aqui ele fala acerca da importância de criar uma disciplina focada na área e comenta também as pesquisas no campo da mineração, envolvendo escavações subterrâneas, que estão em andamento na Universidade. Acompanhe a seguir.
De acordo com Zingano, o tema “túneis” faz parte de uma área bastante específica de estudos dentro da engenharia. Muitas universidades não têm essa cadeira nos cursos de graduação. Na maioria dos casos, para se especializar no assunto, o aluno deve cursar uma pós-graduação ou seguir para um mestrado ou doutorado.
“São Paulo e Brasília, por exemplo, contam com pesquisadores muito competentes na área de túneis, mas no Rio Grande do Sul essa área não é tão lembrada”, declara o professor. “E deveria, uma vez que Porto Alegre é uma cidade com muitos morros, onde obras de túneis se fazem necessárias para melhorar a infraestrutura viária”.
Este é um dos motivos que levaram Zingano a propor disciplinas específicas sobre túneis na Universidade. “Apesar de a UFRGS oferecer conteúdos sobre escavação subterrânea e seus diferentes métodos de lavra, que podem ser aproveitados para túneis, não havia um foco específico nessa área”, declara o professor.
Outro motivo é a necessidade de levar o conhecimento adiante. “Precisamos preparar os novos engenheiros para este campo de estudo, inclusive para não dependermos de consultorias estrangeiras”, diz.
“Além disso, nossos atuais especialistas em túneis, que são muito importantes, não viverão para sempre, infelizmente. Temos que renovar este conhecimento”, afirma o professor. “Por isso, estou montando com os professores da engenharia civil uma série de disciplinas focadas em túneis, que devem entrar nas grades curriculares dos cursos de engenharia civil e engenharia de minas já no ano que vem”.
De acordo com Zingano, as disciplinas irão conter projeto de túneis, uso de métodos numéricos, investigação e tudo o que envolve a operacionalização de uma obra de túnel. “O objetivo é que o engenheiro formado saia da Universidade já com uma boa bagagem sobre a área”.
Atualmente, Zingano faz parte da equipe de pesquisadores da UFRGS que vem estudando a automação de processos de análise de medidas de tensões in situ em minas subterrâneas e de grandes profundidades. Além disso, estudam-se escavações a céu aberto e estabilidade de encostas.
Para o professor, a automação é um foco bastante grande não apenas na área de mineração, mas em outras áreas da indústria, como a de túneis.
“Em relação à caracterização geomecânica de maciços, a automação vem com a fotografia”, adianta. “Ao invés de fazer mapeamento in situ, com detalhes, em pequenas porções, tira-se uma foto; faz-se, assim, o mapeamento de pontos muito próximos um do outro em paredes, de forma que é possível determinar a orientação de estruturas, o espaçamento. Essas orientações de estrutura vão ditar qual é o tipo de movimento que o maciço pode ter. Outra opção também é a filmagem”.
A relevância da automação das análises em obras subterrâneas se dá por conta do alto custo financeiro e do tempo que as sondagens exigem.
“Considerando principalmente as obras de túneis, as pesquisas às vezes são insuficientes”, declara Zingano. “Poucas são as empresas que fazem um bom estudo geofísico da superfície para verificar espessura do solo, identificar se há falhas na estrutura ou se há presença de água – que é inclusive um problema muito sério em túneis. E são erros assim que aumentam os custos da obra e comprometem sua segurança”.
Para o professor, ainda que uma obra de túnel seja orçada incialmente em R$ 50 milhões, por exemplo, se os profissionais e empresas envolvidos fazem uma boa pesquisa e um bom projeto, o custo da obra pode até subir, mas não muito. “Ainda que haja aditivos, eles não vão estourar o orçamento”, garante. “A manutenção do túnel também custará menos se os incidentes forem previstos com base em estudos”.
“Há também uma etapa muito importante e muito cara da obra de túnel, que é o monitoramento”, diz Zingano. “Hoje em dia, para se monitorar uma obra, deve-se deslocar uma equipe até o local. A automação também pode incluir esse procedimento, com a utilização de ferramentas que podem detectar os movimentos do maciço durante e após a construção do túnel”.
As pesquisas da UFRGS consideram este cenário e estão focadas no aprimoramento desses estudos “de forma que as ferramentas produzam um resultado mais confiável, mais representativo e muito mais rápido”.
André Zingano possui formação em engenharia de minas, mestrado em engenharia de minas, metalúrgica e de materiais e doutorado no mesmo campo de estudo pela UFRGS. É também pós-doutor pela West Virginia University, dos Estados Unidos, onde estudou a área de mecânica das rochas. Atualmente atua como professor adjunto do Departamento de Engenharia de Minas da UFRGS, dando aulas para as disciplinas de geologia de engenharia e mecânica de rochas dos cursos de engenharia de minas e engenharia civil. Atua também como orientador de mestrado para dissertações em controle de maciço e lavra subterrânea.