Os cadastros existentes nos órgãos públicos não contam com os dados necessários ou reúnem informações desatualizadas sobre as redes e as estruturas subterrâneas existentes nas cidades.
Além disso, cada órgão tem o seu próprio cadastro e não há um registro unificado. “Por isso, é fundamental que o responsável pela obra subterrânea faça sua própria investigação para comprovar e detalhar o que foi apontado pelo cadastro”, explicou o engenheiro Enrique Vega Leon, que ministrou palestra no dia 12/11, no Instituto de Engenharia, a convite do Comitê Brasileiro de Túneis.
Vega Leon é engenheiro da Tauri Engenharia e membro do CBT Young Members, com experiência em obras geotécnicas, subterrâneas e de drenagem envolvendo implementação de políticas focadas em rentabilidade, formação de equipes, melhoria contínua e gerenciamento de projetos.
O palestrante ressaltou no início a importância do uso do espaço subterrâneo. Falou em seguida a respeito dos cadastros da ocupação desse espaço em grandes centros urbanos que são elaborados por órgãos públicos ou empresas de saneamento, gás, cabeamento de internet, eletricidade etc.
Segundo ele, na maioria das vezes, o cadastro existente não apresenta todas as informações necessárias ou está desatualizado. Além disso, cada órgão tem o seu cadastro e não há um registro unificado. “Por isso, é fundamental que o responsável pela obra faça sua própria investigação para comprovar e detalhar o que foi apontado pelo cadastro”, ressalta o engenheiro.
“Ao planejar uma obra subterrânea, é preciso saber exatamente o que já existe ali, onde está e a que profundidade, além de inspecionar “in loco” como está a estrutura. A falta de conhecimento pode trazer prejuízos muito graves à obra”, complementa Akira Koshima, ex-presidente do CBT e engenheiro especializado em jet grouting com experiência de cerca de 40 anos.
“Neste tempo todo de carreira, já vivenciei diversos casos em que o cadastro e a inspeção prévia foram fundamentais para segurança do túnel, entretanto, também vivi caso em que foram considerados apenas os dados recebidos pelos órgãos, sem checagem, e as interferências não estavam onde apontavam os cadastros, o que levou inclusive à ruptura do túnel”.
Métodos de coleta de informações
Para obter informações sobre as interferências existentes no subterrâneo, Enrique Vega Leon apresentou alguns métodos que podem ser utilizados. O primeiro foi o radar de penetração. Trata-se de um método eletromagnético de sondagem não destrutiva.
Em seguida, foi apresentado o TSP – Tunnel Seismic Prediction, método sísmico para detecção de características geotécnicas por meio de microdetonações e processamento 3D de leituras. “Este método é mais adequado para caracterização de maciços rochosos”, explica Veja Leon.
Por último, ele falou sobre um método geofísico não-destrutivo que injeta correntes elétricas no solo por meio de eletrodos, trazendo interpretação da resistividade do substrato mapeado. Este método é conhecido como eletrorresistividade.
“É importante ressaltar que além da escolha do método mais adequado para a detecção de interferências, é fundamental a interpretação correta dos dados colhidos”, afirma Enrique Vega Leon.
Estudo de Caso
Para exemplificar o trabalho de identificação de interferências urbanas, o engenheiro apresentou um caso em que atuou. O desafio era encontrar o melhor local para fazer o poço de ataque para a execução de um túnel de drenagem.
Enrique mostrou os métodos utilizados para colher informações das interferências e o que foi encontrado, incluindo os desafios e as surpresas ao longo do processo. Ao fim, explicou quais foram os critérios utilizados para a tomada de decisão.
Debate
Ao longo de toda a palestra, a plateia fez interferências, comentários, procurando esclarecer dúvidas sobre o assunto abordado e levantar outras questões, como o uso do jet grouting, que enriqueceram a discussão.
“A escolha do tema da palestra foi muito feliz”, afirma Jairo Pascoal Júnior, presidente do CBT. “Não há obra subterrânea em que não sejam encontradas interferências. Estamos passando por um momento em que as obras mais antigas precisam ser cadastradas. Existem novas tecnologias, novos desafios. Diante de tudo isso, foi muito bacana a discussão que o Enrique proporcionou”.
O CBT e o conhecimento técnico
A principal missão do CBT é disseminar o conhecimento técnico, promover discussões, abrir espaço para a divulgação de novas tecnologias. Neste sentido, as palestras têm um papel fundamental. No encontro do dia 12/11, como em outros, um associado corporativo CBT trouxe à comunidade tuneleira seu conhecimento, métodos teóricos aplicados e casos de obras que têm a aplicação desses métodos e podem fomentar o debate.
“Para a Tauri, fazer parte do CBT é muito importante”, destaca Enrique Vega Leon. “A empresa nasceu justamente em uma obra de túnel em que percebemos uma carência no mercado de empresas que prestem serviços de coleta de informação e cadastro e processamento desses dados. Então ser associado ao CBT é uma satisfação principalmente porque acreditamos que podemos contribuir muito com a comunidade técnica, em oportunidades como esta palestra”.
Serviço
Palestra: O Impacto de Interferências Subterrâneas no Planejamento de Escavação de Túneis em locais de alta densidade urbana
Palestrante: Enrique Vega Leon
Local: Instituto de Engenharia, São Paulo – SP
Promoção: Comitê Brasileiro de Túneis