O Comitê Brasileiro de Túneis (CBT) participou, a convite, de audiência pública sobre o túnel imerso Santos-Guarujá, que será construído no litoral de São Paulo. O encontro aconteceu no dia 13 de junho, na Câmara dos Deputados, em Brasília. Representando o CBT, compareceram à audiência o engenheiro Tarcísio Barreto Celestino, ex-presidente do CBT e da Associação Internacional de Túneis e do Espaço Subterrâneo (ITA) e o engenheiro Eloi Palma Filho, ex-presidente do CBT.
A audiência convocada pela Comissão de Viação e Transporte da Câmara dos Deputados apresentou informações sobre o desenvolvimento do projeto e discutiu as intenções dos Governos Federal e Estadual em relação à construção do túnel imerso que ligará as duas cidades.
O CBT foi convidado pela primeira vez para participar desse fórum de discussão e a experiência foi muito importante. “O convite foi uma boa notícia para nós, pois representa que alguém no Congresso entende que um órgão técnico deveria ser ouvido”, comenta Celestino. Para Eloi Palma Filho, é sempre uma grande satisfação participar de encontros como este. “Significa um reconhecimento da sociedade em função dos trabalhos realizados pelo nosso Comitê”, acrescenta.
Durante apresentação na audiência, Tarcísio Barreto Celestino explicou a importância do túnel imerso, suas características técnicas e as otimizações necessárias ao projeto para uma construção com menor custo e tempo. “Foi esclarecido que o método construtivo depende pouco da qualidade geotécnica do maciço, que muitas vezes é questionado. Os tomadores de decisões precisam saber de informações desse tipo”, afirma.
O CBT levou para o fórum de discussão exemplos de túneis que foram construídos em outros países e que solucionaram a necessidade de ligação entre locais. Além disso, foram apresentados casos de substituição de pontes por túneis imersos. Dessa forma, foi possível comprovar a viabilidade dessa solução em nível global.
A construção
Durante o encontro, a discussão principal foi a respeito da modalidade de contratação e a quem compete a construção do túnel: ao Governo Estadual ou ao Governo Federal.
O presidente da Autoridade Portuária, Anderson Pomini, defendeu uma contratação direta, utilizando o projeto existente com algumas modificações, licitado diretamente pelo Governo Federal. Por outro lado, o Secretário de Estado, Rafael Benini, preconiza uma PPP (Participação Público Privada), em que a construção seria parte de um esquema maior de concessão.
Eloi Palma Filho destacou que o projeto está em fase de entendimento entre as autoridades para decidir qual modelagem é mais adequada, visando sua implementação nos próximos anos. Entretanto, a questão da solução por meio do túnel já está definida. “Não se discutia naquela ocasião alguma outra solução, ou seja, nesse debate para ligação entre Santos-Guarujá ficou consolidado que é a melhor solução é o túnel imerso”, afirma.
“A boa notícia é que ambos os governos querem construir o túnel. É a primeira vez que eu vejo isso acontecer desde que me envolvo no tema, há mais de 10 anos”, afirma Celestino. “Na minha visão, o melhor cenário seria que os dois níveis de governo concluíssem em comum acordo que a obra fosse executada por ambos”, comenta.
Benefícios do projeto
Atualmente, a travessia entre Santos e Guarujá é realizada por meio de balsa. Durante a passagem de navios, o serviço é interrompido. Outra forma de deslocamento é através da estrada, por um trecho de 43 quilômetros de distância. Assim, com a falta de ligação, a população da área metropolitana de Santos-Guarujá enfrenta prejuízos operacionais dos veículos e um tempo elevado de espera.
A construção do túnel, portanto, trará qualidade de vida local, com benefícios ambientais, urbanísticos, econômicos e humanos.
Além dos benefícios relativos à melhoria do transporte das cargas que chegam e saem pelo Porto de Santos, Eloi Palma Filho afirma que a implantação desse empreendimento irá agregar novos conhecimentos técnicos sobre construção de túneis imersos. “Será uma possibilidade para nós, técnicos brasileiros, absorvermos novos conhecimentos e, com certeza, replicarmos possivelmente em outras obras Brasil afora”, comenta.