A engenharia brasileira tem muito bom nível, mas ainda carece de um olhar técnico aprimorado em alguns assuntos. Um exemplo emblemático disso é o trecho da Rodovia Rio-Santos que liga as praias de Boiçucanga a Maresias, em São Sebastião, no litoral paulista, onde já houve prolongadas interdições devido a quedas de barreiras.
As praias estão distantes entre si em 4 quilômetros e, ao invés de ter sido construído um túnel em nível nesse percurso, o projeto executado e que opera até hoje é a rodovia que sobe uma serra íngreme até 320 metros acima do nível do mar com curvas muito sinuosas, onde já foram registrados muitos acidentes com mortes.
Para estimar os prejuízos que a sociedade tem acumulado durante anos devido a esse projeto inadequado, o presidente do CBT (Comitê Brasileiro de Túneis), engenheiro Tarcísio Barreto Celestino, também professor doutor da USP, fez o cálculocomparativo de custos operacionais de veículos que sobem e descem a Serra com as curvas por esse trajeto de 6,4 quilômetros e o que seriasomenteum trajeto de 4,2 quilômetros, em nível, se o trecho fosse substituído por túnel em linha reta.
“A diferença de custo operacional dos veículos com as duas concepções chega a 2,2 bilhões de dólares, ao longo dos anos desde a abertura da rodovia, sem contar acidentes, fatalidades, quedas de barreiras, etc”, revela Tarcísio. “Esse é o custo de uma concepção errada de engenharia, com o qual a sociedade arca por não ter sido feito na época da construção um estudo de alternativa conceitualmente sólido”, critica Tarcísio. O exemplo se repete em muitos outros locais das estradas do País.
De acordo com ele, no passado optou-se muito por soluções ditas baratas, sem levar em conta o custo social, de operação, de manutenção, entre outros. Em muitos desses casos, o barato saiu muito caro, cobrando elevados custos de longo prazo e até vidas humanas.
CBT comprovou: túnel é mais viável que ponte, para ligar Santos e Guarujá
Já o projeto do Túnel Santos-Guarujá, que será construído submerso no canal do Porto de Santos,é um exemplo de que a engenharia pode contribuir com conhecimento técnico, com benefícios reais para a sociedade como um todo.
“Esse é um caso emblemático em que o CBT se empenhou e conseguiu reverter um processo que poderia ser um novo erro de engenharia. Após várias audiências públicas com participação de engenheiros, arquitetos e da comunidade da região, o CBT defendeu a construção de um túnel imerso com avançada tecnologia, mostrando sob o ponto de vista técnico e social que o projeto anterior de construção de uma ponte não era adequado para o local. O CBT mostrou e a DERSA teve a competência de encampar a solução. Vamos esperar que a crise termine e a construção se inicie”, arremata Tarcísio.