Profissionais da área e estudantes de engenharia civil lotaram a sala do Instituto de Engenharia para assistir a palestra “Túneis para saneamento do Projeto Tietê”, promovida pelo Comitê Brasileiro de Túneis e realizada no último dia 24 de julho, em São Paulo. Coube ao geólogo do Consórcio ITI-7, Bruno Rodrigues Leite, associado ao CBT e membro do CBT Young Members, e ao engenheiro Edson José Andrigueti, especialista em recursos hídricos e membro da Diretoria de Tecnologia e Meio Ambiente da Sabesp, a apresentação do tema. (Na foto, da esq. à dir., o geólogo Bruno Rodrigues Leite, o engenheiro civil Edson Andrigueti e o arquiteto Adriano Saldanha, secretário geral do CBT).
Edson Andrigueti lembrou que o Projeto Tietê teve início no começo dos anos 90. “O Projeto Tietê propõe melhorar e ampliar o sistema de esgoto da região metropolitana de São Paulo, levando todo o esgoto coletado para cinco grandes estações de tratamento que já estão construídas na capital paulista”, explicou Andrigueti.
Além de proporcionar a universalização da coleta e tratamento de esgotos de São Paulo, o Projeto tem uma meta ainda mais ambiciosa: a despoluição do rio Tietê, um dos maiores do Estado e um ícone histórico e natural da região. Com a última das suas quatro etapas já alcançadas, a expectativa é que o Projeto seja finalizado em 2024.
Em seguida, foi a vez de Bruno Rodrigues Leite compartilhar com a comunidade tuneleira a execução do trabalho, os desafios e as peculiaridades das obras realizadas até o momento pelo Consórcio ITI-7, formado pelas empresas Construtora Augusto Velloso, Telar Engenharia, Trail Infraestrutura EIRELI e administrado pela VAD Engenharia. “O Consórcio é responsável por uma parte da 4ª etapa do Projeto Tietê”, explica o geólogo. “É uma obra bastante significativa, com 15km de túneis que estão sendo construídos a partir de metodologias como NATM, escavação mecanizada, tunnel liner e vala a céu aberto.” As obras do Consórcio ITI-7 tiveram início em 2015 e a previsão é que sejam finalizadas no começo de 2020. Quando entregues, prometem beneficiar 740 mil pessoas. “Como estão bem adiantadas, acredito irão acabar dentro do prazo”, afirmou Bruno Leite.
Dentre os desafios encontrados, o geólogo abordou o desmonte de rochas por métodos que não as detonações – já que alguns dos principais túneis se localizavam embaixo de importantes vias da capital –, a realização de contenções e de rebaixamentos do lençol freático, o controle de água nas frentes de escavação e os achados arqueológicos encontrados durante as escavações.
“A obra tem o acompanhamento de arqueólogos em todas as escavações de poços no centro de São Paulo, atendendo as exigências do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)”, contou Bruno. “Houve um caso em que as escavações de um poço precisaram ficar suspensas por dois meses para que pudesse ser feito o recolhimento de todos os achados arqueológicos”.
O que também mereceu destaque dos palestrantes foi a interferência de estruturas no subterrâneo que não estavam previstas, como redes de energia, redes de água, de esgoto – ativas e desativadas – que não constavam nos cadastros e, por isso, não entraram no planejamento das obras.
“Dependemos do cadastro das obras realizadas pelas empresas de telefonia, energia elétrica e todas as outras que utilizam o espaço subterrâneo para instalar suas estruturas, para podermos determinar onde locar nossas escavações”, comenta Bruno.
O palestrante relatou também que a interferência de obras não cadastradas causou grande transtorno. Quando isso acontecia, era necessário acionar os responsáveis por aquelas estruturas e deslocar os poços de escavação.
Uma sessão de perguntas foi aberta após a palestra. Tanto os estudantes quanto os profissionais do setor participaram ativamente com dúvidas e comentários direcionados aos dois palestrantes.
Para o secretário geral do CBT, Adriano Saldanha, o tema da palestra despertou a atenção do público. “Ainda que o tema esteja dentro do universo das obras subterrâneas, a construção de túneis para saneamento não é um assunto discutido com tanta frequência em relação às obras de túneis mais ‘convencionais’, como os rodoviários, ferroviários e metroviários”, comenta Saldanha.
“Por isso mesmo, as palestras foram muito interessantes. Além da casa cheia, tivemos bastante interação e muita curiosidade para entender como foi o processo construtivo, como a escolha dos túneis pôde ser adaptada para um benefício público e, tecnicamente, como os desafios dessas obras foram superados”, declara o arquiteto.
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