Ex-presidente do CBT Young Members, Marlísio Cecílio foi condecorado em novembro de 2019.
Para valorizar os jovens geotécnicos, a Sociedade Internacional de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ISSMGE) criou o Bright Spark Lecture Award, que destaca um jovem de cada região da entidade por sua contribuição à teoria e à prática da engenharia geotécnica. Em sua primeira edição, realizada em 2019, o premiado na América do Sul foi Marlísio Cecílio, ex-presidente do CBT-Young Members. “Sinto-me honrado por representar o Brasil por meio deste prêmio, esse reconhecimento é muito gratificante!”, afirma o engenheiro.
O prêmio estabelece que o vencedor de cada uma das regiões da ISSMGE – África, Ásia, Australásia, Europa, América do Norte e América do Sul – faça uma apresentação durante um dos congressos internacionais da entidade. A palestra de Marlísio Cecílio aconteceu durante o XVI Congresso Pan-Americano de Mecânica de Solos e Engenharia Geotécnica, realizado em Cancún, no México, em novembro de 2019.
Para concorrer ao prêmio, Marlísio submeteu um apanhado dos trabalhos que desenvolveu sobre análises probabilísticas e segurança de obras geotécnicas enquanto trabalhou na Bureau de Projetos. “Meu objetivo foi apresentar o tema sob o meu ponto de vista, de um jovem engenheiro geotécnico”, explica.
Como resultado da premiação, um trabalho sobre análises de confiabilidade foi publicado no congresso (disponível para download) e apresentado durante a sessão Bright Spark do congresso (vídeo da apresentação disponível aqui).
“Comecei a apresentação discutindo a importância dos grupos de jovens nas associações, como o Young Member Presidential Group, da ISSMGE, ou o CBT Young Members, do Comitê Brasileiro de Túneis, e a importância da contribuição dos sêniores na formação dos jovens”, conta Marlísio. “Para mim, esta é uma relação mutuamente benéfica. O jovem precisa de um mentor para ajudar a complementar sua formação, inclusive com teorias não cobertas pelas universidades. Para mim, um bom profissional obrigatoriamente teve um bom mentor. Por outro lado, o sênior recebe muita ajuda do jovem, que tem uma visão diferente do mundo, renovada. O jovem é inovador, indagador, ele questiona os processos, e isso também ajuda o sênior a evoluir”.
Em seguida, Marlísio Cecílio apresentou os nomes de alguns de seus mentores no início de sua carreira – aqueles que serviram de inspiração e o ajudaram com o tema de análises de confiabilidade. Nesse expressivo rol de grandes especialistas, Marlísio cita o engenheiro Arsenio Negro, que foi seu chefe na Bureau de Projetos. Outro destaque é Paulo Ivo, professor do ITA e consultor da Bureau, especialista em análise estatística. O jovem premiado incluiu também nesse grupo o engenheiro Waldemar Hachich, professor da USP e representante brasileiro no grupo da ISSMGE sobre gestão de riscos, e o professor Nelson Aoki, da USP São Carlos, ambos reconhecidos por discussões sobre o Fator de Segurança geotécnico. Outros dois nomes destacados foram Tarcísio Barreto Celestino, ex-presidente do CBT e da ITA (Associação Internacional de Túneis e dos Espaço Subterrâneo), e André Assis, também ex-presidente das duas entidades. Tanto Celestino quanto Assis têm vasta experiência em análises de confiabilidade.
O principal ponto da apresentação foi o que Nelson Aoki cunhou como o paradigma do fator de segurança. “O fator de segurança de uma obra geotécnica é um valor único e muitas vezes considerado como definitivo, a ser comparado com limites mínimos estabelecidos por normas. Este número, no entanto, não indica a segurança da obra mas sim a sua estabilidade”, afirmou Marlísio. Para este cálculo, são utilizadas propriedades do solo que são naturalmente e inevitavelmente variáveis. “Ora, se os dados de entrada dos cálculos são variáveis, o resultado também o será”, prosseguiu. “O que eu insisto em explicar, seguindo a linha de raciocínio dos mentores citados, é que esse número sozinho indica apenas se a obra está estável ou não. A segurança da obra só pode ser analisada se a variabilidade das variáveis, ou suas incertezas, forem também incluídas nos cálculos de estabilidade, resultando em uma probabilidade de ruptura”.
A apresentação seguiu com estudos de casos desenvolvidos pelo premiado e publicados em congressos nacionais e internacionais. “A ideia foi demonstrar que estas análises probabilísticas são possíveis de serem realizadas também no mercado de trabalho, não sendo restritas ao círculo acadêmico“, argumentou Marlísio.
Ao final, Marlísio fez um apelo para que os geotécnicos mais experientes contem com os jovens para desenvolver trabalhos utilizando análises probabilísticas. “São cálculos complexos que acabam deixando os sêniores, por vezes, inseguros, pois eles nem sempre dominam as ferramentas hoje disponíveis”, ressalta. “Os jovens estão aí para ajudar e tornar viável este tipo de análise, que é muito importante e infelizmente ainda não é tão utilizada quanto deveria ser. Eles só precisam do incentivo, do desafio”.
Graduado em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Santa Catarina, Marlísio obteve seu Mestrado em Túneis pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Tem experiência de 10 anos em escritórios de engenharia, sendo 7 anos na Bureau de Projetos. Atualmente, Marlísio é candidato ao título de PhD pela Universidade de Wollongong, na Austrália, pesquisando sobre a resistência ao cisalhamento de fraturas de rochas.
Desde o início de sua carreira profissional, Marlísio publica artigos em congressos nacionais e internacionais. Essa participação ativa o levou a ser convidado para a criação e presidência do CBT Young Members, além de integrar as Comissões Organizadoras do World Tunnel Congress 2014 e do 9th International Symposium on Geotechnical Aspects of Underground Construction in Soft Ground.