Engenheiro conta algumas de suas experiências acadêmicas e profissionais mundo afora no quarto encontro do CBTym Talks.
O último encontro do CBTym Talks contou com a participação do engenheiro Gustavo Aguiar. Realizado no dia 22/04, teve como ponto de discussão o projeto Ahmed Hamdy Tunnel, localizado sob o Canal de Suez, no Egito. Aguiar atuou no projeto e adquiriu mais conhecimentos devido aos desafios que enfrentou. O engenheiro também compartilhou sua experiência profissional, a convivência e o modo de trabalho nas diferentes culturas. O encontro foi moderado pelo presidente do CBT Young Members Fernando Abreu, e o vice-presidente, Alex Nowak La Flor.
Formação e Carreira
Engenheiro civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Aguiar é membro do CBT Young Members e atualmente trabalha na empresa alemã BabEng. O primeiro contato com túneis aconteceu ainda na época da faculdade, durante um estágio na empresa Bureau de Projetos. Neste período, atuou no projeto executivo da estação Sacomã (Linha 2-Verde do Metrô de São Paulo). “Trabalhei na empresa por dois anos e meio e foi um ótimo aprendizado para complementar a minha formação”, relata Aguiar.
Após a obra da estação Sacomã, Aguiar trabalhou na obra da Linha 5-Lilás do Metrô de São Paulo, época em que teve seu primeiro contato com o Tunnel Boring Machine (TBM). De acordo com o engenheiro, diversas inovações fizeram parte das obras da nova linha. Na estação Brooklin, por exemplo, foi utilizado um novo equipamento, até então nunca usado em obras do metrô – a hidrofresa. “Essa metodologia construtiva nova permitiu a escavação de cinco poços ao mesmo tempo”, relata Aguiar.
Foi nas obras da Linha 5 que Aguiar começou a conquistar seu espaço, propondo ideias e desenvolvendo-as internamente. Também contou com a orientação do engenheiro Marco Aurélio Peixoto, membro do CBT, que era o coordenador de projetos. Aguiar relata que Peixoto o incentivou a fazer o mestrado durante o período em que estava na obra. “Acho que o mestrado foi muito importante para dar uma visão diferente e conhecimento técnico para conseguir desenvolver novas soluções. A experiência de ter de fazer uma dissertação ajudou bastante profissionalmente”, conclui.
Aguiar acompanhou, ainda, o início das obras da Linha 6-Laranja do Metrô paulista, onde conheceu seu atual chefe, o engenheiro alemão Lars Babendererde. Nessa obra, Aguiar teve contato com grandes especialistas na área, entre eles, o engenheiro Tarcísio Barreto Celestino, que foi presidente do CBT e da ITA (Associação Internacional de Túneis e Espaço Subterrâneo).
Vivência internacional
Após sair da obra da Linha 6, Babendererde convidou Gustavo Aguiar para trabalhar na empresa alemã BabEng. Ali, o engenheiro passou a conviver com pessoas de diversos países e culturas e presenciou as diferenças de mão de obra em cada região. Em sua primeira obra na Alemanha, o engenheiro trabalhou com uma equipe mista, constituída por homens e mulheres, porém com a presença predominante das engenheiras em campo. “A primeira coisa que notei foi a quantidade de pessoas na a equipe, que era bem enxuta, e como eram todas altamente qualificadas e comprometidas”, afirma Aguiar.
Outro projeto em que o convidado atuou pela empresa BabEng foi no metrô de Tel Aviv, em Israel. A obra era de responsabilidade de um consórcio composto por uma empresa israelita e outra chinesa. A forma como os chineses trabalhavam chamou sua atenção. “Eram mais de 20 pessoas no mesmo lugar e cada um tinha uma atividade específica. Bem diferente daquela equipe enxuta da qual participei na Alemanha. Foi interessante ver as diferenças entre os países”, completa Aguiar.
Tunel Ahmed Hamdi II – Projeto Suez Canal Road
O Túnel Ahmed Hamdi II é um projeto do governo do Egito. É um dos cinco novos túneis construídos sob o Canal do Suez para alavancar o desenvolvimento econômico da região da península do Sinai. Antes do projeto, havia apenas uma ligação com a península por túnel, com balsas bem esparsas para passar de um lado para outro lado. O objetivo do projeto era aumentar as ligações, já que a área é protegida por militares.
Diferente dos túneis anteriores, tal obra estava sob responsabilidade de um consórcio formado por duas empresas egípcias. Com a maioria da equipe composta por profissionais do próprio país, o intuito do governo era fomentar o aprendizado e a disseminação de conhecimento. Por isso, os poucos estrangeiros que participavam do projeto desenvolviam funções mais importantes para estabelecer essa comunicação. Aguiar participou desde o início da montagem do TBM e atuou no planejamento e na execução da obra.
Com 3250 metros de extensão, o túnel foi escavado com auxílio de uma Mixshield, máquina desenvolvida pela Herrenknecht, empresa associada ao CBT. Para isso, foi utilizado um Slurry Circuit TBM de 13 m de diâmetro. O túnel apresenta apenas um sentido, com duas faixas de rolamento e galeria específica para resgate embaixo da via – a cada 250m há uma escada para galeria, além dois poços de saída emergência
Um dos maiores desafios da obra, segundo Aguiar, foi conseguir usar a máquina Slurry na argila. “O principal problema era a questão do clogging, ou seja, a argila aderia no metal de todas as peças e ia fechando as janelas da cabeça de corte, formando grandes blocos de argila”, pontua. A consequência seria a necessidade de constantes intervenções. “A geologia do lugar é bastante curiosa. No meio do deserto, só encontramos argila, basicamente “, relata o engenheiro.
Assista aqui à transmissão completa: https://www.youtube.com/watch?v=QrtG4vsvsME